Estávamos sentados os três. Eu, meu pai e minha mãe, quando ele me disse
que eu tinha que casar novamente. Quem
vai fechar teu sutiã quando tu estiveres velha?
A
colocação me deixou perplexa, pois em onze
anos de separada, nunca ouvi qualquer coisa a respeito. Não vindo dele.
Certamente
que não falei o que me veio a mente, de
imediato: “Mas pai, todo mundo fica
sozinho em algum momento. Tu e a mãe não vão morrer juntos (muito provavelmente)!
“
Dito
e feito. Após um mês ele caiu doente, e em seis meses, deixou não somente aquela que foi sua companheira por 60 anos sozinha, como um vazio enorme em
todos nós, que o amávamos tanto.
Dia
destes, minha mãe me contou um sonho em que desesperada, tentava fazê-lo voltar
para ela, após uma briga. Mas ele se negava, estava furioso. Ela pedia
desculpas, implorava, mas ele era irredutível, não voltaria. Ela mal conseguia
descrever o tamanho do desespero, que era também do tamanho de seu abandono. Ontem me contou que ouviu um barulho no
quarto, enquanto dormia. Ao olhar para o lado, viu um vulto. Só poderia ser ele. Já não tinha certeza se teria sido um sonho.
Aí
eu fico pensando. Que triste e, ao mesmo tempo, que linda esta história. Se não
temos a opção de permanecermos junto a nossos afetos para sempre, que ao menos possamos
viver o amor em toda sua plenitude, até seu último suspiro E que a separação
não seja voluntária, mas imposta pela vida, ou pelo fim dela.
E
acabo por concordar com meu pai. É preciso ter alguém com quem sejamos verdadeiramente
ligados até o fim, ou mesmo até depois
do fim das nossas vidas. O amor que o companheiro remanescente herda na viuvez deve servir de combustível para que se possa cumprir o resto da jornada sozinho.