Neste fim de
semana assisti, pela enésima vez, a temporada completa de Friends. E quando revi o ultimo episódio da série, que
encerra a etapa de transição da adolescência tardia para a vida adulta de seis jovens
amigos, me veio com uma clareza impressionante a compreensão de que me senti,
assim como os personagens, órfã de alguma coisa que não volta mais. E me dei conta que assim é a vida. Estamos
sempre ficando “orfãos” de algo que já vivemos, ou não. Mesmo que tenhamos partido ou mudado por
vontade própria, aquilo que ficou para trás já não nos pertence mais. Os sonhos
que sonhamos e não vivemos a tempo de continuar desejando também. Pode ser uma casa, um trabalho, uma amizade ,um
projeto, um casamento, uma viagem... Tudo o que já vivemos ou desejamos e não temos
mais vai deixando na nossa alma uma “vaguinha” que nem sempre poderá ser
novamente preenchida. Poderão vir novas histórias, novos afetos , oportunidades
ou sonhos. Mas aquilo que ja esteve dentro de nós, fica para sempre. E sua
ausência, nos deixa eternamente esvaziados. E aí me pergunto como pode isto?
Vivemos tão intensamente tantas coisas e sempre encontramos espaço para novas
experiências, vínculos e desafios. A primeira vez que ouvi a palavra “resiliência”,
que não conhecia, fiquei encantada com o seu significado. A grosso modo, é a capacidade
que as pessoas tem de seguir em frente, ou recomeçar, após situações de extrema
dificuldade. O popular tropeça mas não
cai, ou ainda, o exemplo da mitológica Phoenix, que renascia de suas próprias
cinzas. Fiquei imaginando, de forma
caricata, uma pessoa cheia de pequenos espaços, pequenos vazios estrategicamente
esculpidos pela sua história de vida. E então me dei conta que temos, felizmente,
um grande HD que nos permite buscar através de algumas memórias, sejam visuais,
auditivas, afetivas, olfativas ou gustativas, um pouquinho daquilo que já vivemos.
Assim como a vida nos dá e tira, ela
também nos oferece alguns atalhos para o que ficou para trás. Na minha cozinha,
muitas vezes, reencontro cheiros e sensações do passado, lembranças vivas de pessoas
queridas que já se foram. Cada um escolhe ou é escolhido por um caminho para
resgatar um pouquinho do que já se foi. Para mim, as melhores receitas, são
aquelas que tem gosto de infância. Podem ser as mais simples. Mas o tempero da saudade e do gosto que me permite relembrar
momentos tão intensos, as transformam em manjares dos Deuses.
Também revejo Friends, tenho todos comprados, bolo de rir!
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