Na qualidade de Assistente Social, acompanhei, por muitos anos, idosos em várias
circunstâncias. Sempre me chamou a atenção, e chegava a me parecer absurdo,
como muitos deles, em algum momento, geralmente no apagar das luzes de
suas vidas, chamavam por seus pais, ou mencionavam seus nomes, como se ainda
fossem pequenas e indefesas crianças. Aquilo
me soava tão absurdo, tão fora de contexto. Como poderia uma pessoa beirando ou
passando os 90 anos de vida, clamar tão ardentemente por aquele colo tão longínquo?
Da mesma
forma, sempre achei que morrer, já com
idade avançada, seria um processo tranquilo. Para quem vai, e para quem fica. Acreditava que a idade nos aproximaria de forma natural do fim da vida e que,
nesta circunstância, a morte seria encarada como visita esperada. Para os que ficassem, o consolo daquele ente
querido ter tido uma vida longa e de realizações, amenizaria a dor da perda.
Com a morte de
meu pai, todas minhas teorias foram por agua abaixo. Assaltado por uma doença agressiva e terminal
em plena vitalidade de seus 86 anos e meio de vida, deixou em todos que o
rodeavam um vazio inexplicável. Nem ele acreditava que seu final estivesse
chegando. Afinal, tinha tanto ainda a fazer, tantos frutos que plantou para ver
crescer, que parecia impossível que estivesse, “tão cedo”, se despedindo da
vida e de nós, que o amávamos tanto. Não importa que eu tenha 52 anos de idade,
nem que já tenha meus próprios filhos adultos. Ainda sou sua filha pequena e preciso muito
de sua presença ao meu lado. O fato de nos tornarmos pais não faz, em momento algum, com que sejamos menos filhos.
Hoje entendo
perfeitamente aqueles velhinhos a quem assistia, incrédula, chamarem por seus pais. Neste momento, tenho a sensação de que seguirei chamando por
ele todos os dias, todas as horas. De cética, me transformei em alguém que
deseja ardentemente acreditar que existe algum tipo de vida após a morte que me
permita esperar pelo dia em que me verei envolvida pelo seu afeto e proteção
novamente.
Alguns amores são grandes demais para que possam se esgotar em uma única vida.
Alguns amores são grandes demais para que possam se esgotar em uma única vida.
“Obe Raskin, filho de Maurício e Vitória Raskin,
foi o segundo de quatro irmãos, Aizik (falecido), Leão e David. Nasceu em 18 de maio de 1926 no município de Quatro Irmãos, berço da
colonização judaica no Rio Grande do Sul. Foi casado, por 60 anos e 10 dias, com Ena
Raskin, com quem teve quatro filhos: Sergio, Circe, Gilberto e Vitória, que lhe
deram nove netos: Daniela, Eduardo, Fernando, Renata, Roberto, Maurício,
Henrique, Andréa e Joana. Exerceu a
odontologia por mais de 60 anos com competência, humildade e amor. Fez parte da
história de muitas famílias e do bairro Floresta em Porto Alegre, onde manteve seu consultório
desde o início até o final de sua vida profissional. Era um homem de poucas palavras e muitas atitudes. Foi filho, irmão, genro, esposo, pai, sogro, avô, tio e
cunhado afetuoso e presente. Além da grande lacuna,
deixará muitas ternas lembranças em todos aqueles que tiveram o prazer de conviver
com ele.”
é... é isso...
ResponderExcluire é lindo querida!
o tamanho dessa dor é também o tamanho da tua força. beijo
Flavia, um beijão pra ti. Os amigos sempre são a parte boa dos momento difíceis!
ExcluirCompartilho do mesmo sentimento Vitória, parabéns por expressar nessa narrativa o infinito amor por teu pai, semelhante ao que cada um de nós sente por eles, desde o momento da nossa concepção, grande abraço.
ResponderExcluirVerdade.. bom encontrar almas parecidas com a nossa. Na postagm, não aparece teu nome, não consigo identificar quem fez o comentário!
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