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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Meia Noite em Paris, um presente do passado para o futuro.


Sempre adorei os filmes do Woody Allen, Na verdade, não há um sequer que não esteja na minha lista de preferidos. Ontem assisti, com atraso, “Meia Noite em Paris”. Nos últimos filmes dele, me senti meio viúva de sua presença como protagonista. Adoro o jeito inteligente, sincero, sutil, hipocondríaco e atrapalhado que ele imprime a seus personagens. Provavelmente, uma caricatura de si mesmo. Mas ontem fiquei impressionada com o a atuação do Owen Wilson. Parece que entrou na alma do Diretor lhe concedendo apenas uma roupagem mais atraente. Vi Woody Allen escondido atras do Owen Wlson, e minha sensação de viuvez diminuiu.
O tema do filme, super instigante, me despertou uma série de sentimentos. Poder sair de nosso tempo e viver a fantasia de entrar na era de ouro de nosso imaginário é algo fascinante. Além do que, me pareceu algo extremamente educativo. Educativo para a vida, para guiar nossos passos rumo ao futuro.
De forma um pouco diferente da abordagem do filme, imagino que a grande maioria das pessoas (eu, inclusive) gostaria de poder voltar ao passado, mas ao seu passado, à sua era dourada para refazer algumas coisas, escolher um caminho distinto do que escolheu e resgatar seu ouro perdido .
Repentinamente acordei para uma nova percepção deste meu desejo. O passado é algo que vivemos de acordo com o que tínhamos para viver. E sim, foi vivido intensamente com os recursos e crenças internamente disponiveis naquele momento. Ficar querendo voltar ao passado é um jeito de não viver o presente, que comprometerá nosso futuro. Pois o hoje sempre terá um ontem. E o passado só vai aumentar de tamanho, somar dias e horas à nossa sensação de incompetência. O que eu não fiz aos 20 anos, me incomodou aos 30, foi aumentando aos 40 e continuou me perseguindo nos 50. Se eu continuar olhando para trás, vou lamentar aos 60 o que não fiz hoje com 50! Se me pergunto, porque não casei com fulano ou escolhi outra profissão no início de minha vida adulta, e fico me remoendo por isto, em 10 anos estarei ainda mais amarga e mais infeliz. Se tiver a sorte de chegar aos 70 ou 80, vou dizer: “Como eu queria voltar aos 50, quando meus filhos ainda moravam comigo, eu era relativamente jovem e fazer tantas coisas que mudariam a minha vida hoje. Como eu queria voltar e ser uma filha melhor enquanto meus pais viviam, uma mãe mais dedicada, ter cuidado um pouco mais de minha saúde e de minha vida pessoal”.
Não quero mais correr este risco. Dependendo do olhar que dou para o passado, posso ver que vivi sim, grandes amores, fui, sim, bem sucedida profissionalmente, escolhi certo meus amigos e tantas outras coisas que amo e valorizo até hoje. Não adianta voltar para lá, pois o que encontrarei será um pote de ouro vazio, totalmente consumido pela felicidade que vivi naquele momento.
Assim como no filme, temos que encontrar nossa felicidade no hoje. Fazer do dia a dia a nossa era dourada. O passado, que sirva de referência , de fonte de riqueza para nosso acervo afetivo e intelectual. Viver intensamente aos 20 anos é muito legal. Aos 30, é instigante, aos 40, é glamouroso, aos 50 e daí por diante é um presente da vida. Somente os olhos que viveram intensamente podem enxergar as verdadeiras luzes de cada etapa da vida e entender que Meia Noite em Paris é belo não só por sua história nem somente por sua deslumbrante fotografia, mas pela possibilidade de compreender a simples complexidade da alma humana.

3 comentários:

  1. Meu Deus que inspiração hein! Lindo texto o filme é belo mesmo,e como escrevestes .Somente os olhos que viveram intensamente podem enxergar as verdadeiras luzes de cada etapa da vida! Para bens. Bj

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  2. Belo texto, Tóia. Achei este filme maravilhoso e um tratado, muito delicado sobre a nostalgia. beijos

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