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quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Tempo em Mim



Quando eu era menina, achava que era dona do tempo. Podia tudo, fazia tudo, o tempo ia se encarregar de consertar as escolhas erradas, as obrigações não cumpridas, os afetos negados, as decisões adiadas. E assim a vida tomou seu rumo.
E não é que o danado do tempo é traiçoeiro? Passou voando, quase invisível, e me devolveu, na passada, o peso de todas estas coisas. Foi meu cúmplice na juventude, mas não avisou que ia deixar marcas de todas estas parcerias. Achei que podia controlar o tempo, mas na verdade ele  que estava se apoderando de mim.
Hoje , na porta de meus 51 anos, posso contabilizar todas as marcas que ele me deixou, As rugas de expressão, os afetos mal resolvidos ou pouco vividos, a saúde mais fragilizada, o corpo menos viçoso, as formas menos definidas, os cabelos embranquecidos.
Tem dias que saio a procurar aquela menina que, embora assustada e um tanto insegura, ousava mais, arriscava tudo. Naquele tempo, o peso de uma escolha ou decisão não tinha o significado que tem hoje. Porque agora, sinto que o tempo não me dá mais esta possibilidade. Me intimou a correr ao seu lado, na qualidade de velha parceira. E para poder acompanhar, me vejo buscando as forças que ele me deixou. Os afetos que construí, as habilidades que desenvolvi, a família que tive e a que pude construir, os amigos maravilhosos que correm comigo ao lado do tempo e aqueles que fui adquirindo nesta linha que ele desenhou para mim.
Por estas coisas que não tem preço, ainda sou grata ao tempo. Mas não nego que as vezes gostaria que ele fosse um pouquinho mais condescendente. Que parasse um pouquinho, só um “pause” de vez em quando, para eu poder respirar, reorganizar as ideias e as prioridades sem que os cabelos embranqueçam ou o viço de meu corpo desapareça.
Não temo a morte, tenho medo é da falta de vida. E é por isto que hoje me aliei ao tempo (que , a bem da verdade, não me deu muita escolha).
Me propus a aproveitar a vida ao máximo, sem desperdiçar um só instante. Que as dores sejam minimizadas e as alegrias ampliadas. Que as possibilidades superem as impossibilidades. Que a vontade de ser um ser pleno não esmoreça no primeiro obstáculo. Que minha cozinha continue sendo fonte de renovação e inspiração para a vida. Coloquei uma cadeira para o tempo ao lado da minha mesa.

2 comentários:

  1. Tóia! Lágrimas nos olhos! E não é que é assim mesmo??? Falou e disse!
    bjão.

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  2. Foi assim que escrevi Ida, com lágrimas nos olhos.Mas com o pensamento voltado para o tempo que nos resta e o discernimento necessário para tocarmos em frente com sensibilidade e sabedoria! Beijos

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